Autocontrole & Um gole de café frio: quando a perfeição cansa a alma

Vivemos tempos em que o desempenho, o controle emocional e a produtividade são tratados como virtudes absolutas. Mas será que essa busca constante pela "melhor versão de si mesmo" não tem nos afastado da nossa própria humanidade? Neste texto, Mariana Castro, psicóloga clínica com base na Psicologia Analítica, reflete sobre os riscos de sufocar o que é autêntico em nome de um ideal de perfeição. A partir do conceito junguiano de sombra, ela convida à escuta de tudo aquilo que foi reprimido: o cansaço, a dúvida, a tristeza e a pausa. Uma leitura para quem sente culpa ao descansar, vergonha por não dar conta de tudo, ou simplesmente quer existir com mais verdade e menos exigência.

Mariana Castro

6/9/20251 min read

Estamos cercados de discursos que exaltam a melhor versão de si mesmo, muitas vezes associada a alta performance, hábitos impecáveis e uma rotina sem brechas para o erro ou para o descanso verdadeiro.

Mas… a que custo?

Na perspectiva junguiana, essa busca unilateral pela perfeição pode nos afastar do que temos de mais humano: nossa totalidade. Jung nos ensina que a psique é composta por opostos — e que ignorar ou reprimir partes de nós mesmos, especialmente aquelas que não se encaixam no ideal socialmente valorizado, é o caminho mais rápido para a fragmentação interior.

A sombra, em termos junguianos, é tudo aquilo que foi excluído da consciência por não se ajustar à imagem que queremos manter de nós mesmos. Quando tentamos viver apenas na superfície luminosa da performance e do controle, o que é instintivo, frágil, contraditório ou caótico acaba sendo empurrado para o inconsciente.

Mas a sombra não desaparece — ela espera.
E pode retornar como ansiedade, culpa, exaustão, crises emocionais ou uma desconexão profunda de si.

Muitos sentem culpa ao descansar, como se pausar fosse uma falha de caráter. Há quem sinta vergonha de não “dar conta” de tudo, como se viver com limites fosse sinônimo de fracasso. Mas essa culpa, tão presente em tempos de produtividade compulsiva, pode ser o eco da sombra pedindo passagem: o corpo que quer parar, a alma que quer existir para além do que é útil ou “melhorado”.

Se você tem vivido sob a pressão de ser incansável, positivo, produtivo… talvez seja hora de perguntar:

O que em mim estou silenciando para caber nesse modelo?

A escuta dessas perguntas pode marcar o início de um outro caminho.
Menos sobre controle.
Mais sobre verdade.